Texto de Análise (05) - A Vida dos Nobres Zhou

A existência inteira do nobre repousa na necessidade de perpetuar o clã e o culto de seu antepassado. O casamento é um ato religioso cercado de garantias determinadas. A poligamia é de regra, mas o nobre não pode casar-se senão uma vez, desposando na mesma cerimônia a esposa principal e as secundárias. O número varia segundo sua condição: 2, se ele não tem título; 3, se é grande oficial; 9, se é príncipe, e até 12, se é rei. Acrescenta-se a isto certo número de concubinas, desde que o marido seja rico e possa comprá-las. O papel de intermediário cabe a um parente ou a um amigo escolhido expressamente para isto, que dirige as preliminares até o noivado. No dia do casamento o moço vem procurar a moça e simula raptá-la num carro. A sua chegada, sob o teto conjugal, participam ambos de uma refeição composta de três pratos regados por três copos de vinho, dos quais o último é formado pelas duas metades de uma abóbora cortada: trata-se do acordo pela abóbada. Vão, em seguida, para a câmara nupcial, onde se despem segundo um cerimonial particular. No dia seguinte o marido apresenta sua mulher aos seus parentes vivos e mortos; três meses depois de ter chegado ao meio de sua nova família, sua integração é tomada efetiva por meio da participação ritual no sacrifício solene que o marido oferece aos seus ascendentes. Somente a partir deste momento, passa a ser, para sempre, a esposa legítima.
O nascimento de crianças, legítimas ou não, dá lugar a poucos ritos. Mas nem todas são deixadas com vida: são mortas ou expostas as que vêm à luz em período julgado nefasto, as que nascem no mesmo mês que o pai, os trigêmeos etc. De resto, durante os três primeiros dias, a criança, seja qual for o seu sexo, é fechada sozinha num quarto, sem cuidados e sem alimentação. Se, ao fim deste tempo, o chefe da família resolve aceitá-la, é levada ao apartamento das mulheres, para ser amamentada pela primeira vez. Por meio de um sacrifício aos antepassados, o pai anuncia então, oficialmente, o seu nascimento; três meses após esta cerimônia, seu filho lhe é, enfim, apresentado.
A infância abrange, em seguida, uns tantos ritos: o da tonsura, que deixa apenas um tufo de cabelos, no cimo do crânio (em chifres para os rapazes, em cruz para as meninas); e o de nome (ming), que integra a criança realmente no registro da família, conferindo-lhe existência verdadeira e determinando o seu destino.
A educação varia conforme o sexo. O menino é instruído na escola do distrito, salvo os primogênitos, que têm direito ao colégio real da capital, da mesma forma que os melhores alunos dos distritos. O período de ensino vai dos dez aos vinte anos; comporta as três virtudes, os ritos e as seis ciências (dança, música, direção de um carro, atirar com o arco, escrita, cálculo). Os alunos vivem segregados do mundo exterior, fechados na sua escola ou no seu colégio. o fim dos estudos é prelúdio ao uso do boné viril (kuan), que é o distintivo da entrada do adolescente no estado de adulto: voltando à sua casa para deixar que os cabelos cresçam, espera durante dois meses por uma cerimônia solene de iniciação, no curso da qual lhe é conferido um novo nome (zi). Quanto à menina, fica com os meninos até a idade de dez anos; é depois fechada no gineceu, sendo- lhe ensinados os trabalhos femininos, a obediência e a função que lhe caberá exercer nas cerimônias religiosas. Aos vinte anos, ou mais cedo, se está noiva, faz um retiro de três meses no templo dos antepassados e depois recebe o alfinete de chinó (ki), ao mesmo tempo que um novo nome.
Os deveres e privilégios do nobre são, teoricamente, os do guerreiro; uma espécie de código de honra rege os seus atos, sejam quais forem as suas funções: acima de tudo, é proibido entrar em conflito com um antigo instrutor; e um de seus principais deveres é a vingança familiar, verdadeira vendeta diante da qual desaparece todo interesse particular e que pode até mesmo se exercer sobre os mortos.
Quem recebe a investidura de um feudo participa de uma solene cerimônia que é um grande acontecimento na sua vida: recebe, então, das mãos do representante do rei - e com um ritual apropriado - um punhado de terra colocada sobre o altar real do solo; tal torrão representa o núcleo da elevação da terra, como as que existem nas sepulturas, dedica das ao deus do solo no seu próprio domínio. Seus deveres e privilégios não diferem dos dos outros nobres, salvo no concernente ao culto que deve prestar aos espíritos de seu feudo e à boa administração das populações sob o seu domínio.
A carreira dos nobres só termina aos setenta anos; mesmo assim é freqüente que o nobre continue o seu serviço até a morte, ainda que tenha sofrido a castração ou a amputação dos pés, às quais deve submeter-se, para poder ocupar certos cargos.
O ritual do luto e dos funerais do nobre é minuciosamente regulamentado, a fim de permitir à sua alma "superior" tornar-se um antepassado e garantir-lhe, na sua permanência celeste, as mesmas vantagens que tivera em vida. Sua família inteira tem o dever de auxiliá-lo, após convencer-se ritualmente de sua morte. Depois da toilette fúnebre, durante a qual todos os orifícios do corpo são obturados com um pequeno pedaço de jade, revestem-no de um traje especial (ming-yi) e expõem-no sobre uma essa ao lado de uma flâmula em que está inscrito o seu nome. Durante esta exposição - cuja duração é variável segundo a categoria do morto -os parentes e os estranhos vêm exprimir suas condolências aos filhos, em vestes de luto, de cor branca. O cadáver é, em seguida, colocado num esquife guarnecido interiormente de seda negra e levado a uma sepultura provisória; os filhos do morto tomam o bastão de luto, símbolo de seu desespero. A sepultura definitiva consiste numa pequena câmara funerária recoberta por uma elevação em forma de cone e precedida de uma alameda a céu aberto e pavimentada com lajes. Ao fim de um tempo maior ou menor, segundo a importância do falecido, é para lá conduzido o ataúde, envolto em tela branca; acompanha-o um grande cortejo, gemendo e lamentando-se, tendo à frente o feiticeiro; depois o preposto para as tumbas faz descer na fossa, ao lado do esquife, as vítimas destinadas a servir de companhia e a prestar serviços ao morto. Isto porque é preciso que ele possa viver normalmente na região dos mortos, com suas armas, seus objetos familiares, sua corte e seus servidores; as vítimas enterradas vivas, cujo número varia de acordo com a posição do defunto em vida, são substituídas por bonecos de palha ou de madeira, entre as famílias pobres. Quando o enterro chega ao fim, o filho vai depositar a tabuinha provisória de seu pai no templo dos antepassados e lhe faz uma oferenda; realiza-se um repasto fúnebre, no qual toma assento um representante do morto. Assim termina a cerimônia fúnebre.
Se, na sua qualidade de nobre, o rei leva uma vida particular que pouco difere da de seus súditos, sua existência é, entretanto, regulada pelos deveres religiosos e políticos, sendo o seu tempo partilhado entre os sacrifícios mensais, as audiências solenes, os julgamentos, os banquetes. Toda manhã conferência com os ministros a respeito dos negócios de Estado, cabendo à rainha, por sua vez, providenciar acerca das questões domésticas. A morte do rei dá ensejo a um cerimonial mais completo que a de um nobre comum; pouco antes de morrer, o rei encarrega o Grande Protetor (um dos três duques) de transmitir o poder ao filho mais velho que teve da mulher legítima. O Grande Protetor, imediatamente após a morte do rei, trata dos preparativos para os funerais, providencia o registro de seu testamento pelo Grande Escriba, dirige o príncipe herdeiro, para que organize o luto, e procede à sua entronização, a qual consiste na solene transferência, para as mãos do novo soberano, da tabuinha de jade que é a insígnia real.

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