Texto de Análise (06) - A Era Han

Favorecidas pelas guerras feudais e , em seguida, pela tirania, profundas transformações interferiram na composição da sociedade e na mentalidade social: os aventureiros, os novos-ricos, os colonos e os grandes proprietários afastam do poder os nobres do antigo regime e baseiam sua concepção do mundo na riqueza, pois a fortuna se tornou o principal instrumento de êxito. A carreira de muitos novos dignatários começa pelos mais humildes serviços: um criador de porcos torna-se grande conselheiro, um simples soldado passa a marquês, um prisioneiro é guindado a regente do Império. O mérito, a oportunidade, a glória militar, os lucros elevados tornam-se garantias muito mais sólidas do que o nascimento e os direitos hereditários.
A indústria, o artesanato e o comércio são beneficiados pelo luxo, que esses novos-ricos amam acima de tudo, apesar dos sermões que lhe são feitos: galas, festas, despesas suntuárias, caçadas e pescarias, representações teatrais sucedem-se num perpétuo aumento de custo, a despeito das determinações governamentais que proíbem que haja mais de três convidados por família e que submetem os transgressores a multas.
E, entretanto, o imperador e sua administração – sob os Han – exortam cada um a realizar um ideal de vida arcaizante, a voltar à antiga simplicidade. A moral de Estado é estrita e severa: afirmando a autoridade absoluta do pai, condena o adultério, proíbe às viúvas o novo casamento, impõem a castidade de costumes. A educação propaga esta moral e tende a igualar os seus efeitos nas províncias: as capitais e os pequenos burgos possuem escolas em que o programa aplicado na capital se repete exatamente. A duração do período escolar é de nove anos, alternando cada ano a categoria das “ciências” segundo as estações e terminando por um exame; o ensino é puramente livresco, devendo transmitir aos rapazes os ritos, a música, o lançamento das flechas, a direção de um carro, a escrita, o cálculo e as regras de etiqueta; às meninas , a tecelagem, o corte de vestes, poesia, história e o manejo do alaúde. Distingue-se, já nessa época, a tendência dos chineses a procurar nos livros clássicos o princípio de toda sabedoria, das virtudes sociais e, até mesmo, da bravura.
As modalidades da vida quotidiana sofreram pouca modificação: ritos, nascimento, casamento, funerais parecem seguir as regras de outrora. A vida rural continua a ser comandada pelas estações e pelas necessidades das culturas. A vida do nobre reproduz, em ponto menor, a do imperador: ele possui escravos – cujo número é obrigatoriamente limitado a 30 – e servidores assalariados; seu palácio abriga as mulheres, os criados e tudo o que é necessário à sua vida normal, desde a lista dos antepassados, até as provisões. Levanta-se cedo, lava as mãos, passa água na boca, penteia-se e pinta o rosto de branco; lava os cabelos e o corpo de cinco em cinco dias, não saindo de casa neste dia. Veste-se, em seguida, segundo sua categoria e toma uma ligeira refeição; recebe, então, seus filhos, que vêm saudá-lo; em seguida, entrega-se ao estudo. Conferencia com seu intendente. Depois de tudo, veste um traje oficial para o almoço e consagra o resto do dia aos deveres de sua função. A mulher dá mais tempo à sua toillete: habita um quarto particular e é cercada pelos cuidados de suas escravas. Penteia-se cuidadosamente todas as manhãs, espetando longos alfinetes nos cabelos, possui todo um conjunto de objetos indispensáveis ao cuidado da beleza, guardados em pequenos cofres de laca delicadamente ornamentados: pó-de-arroz, chamado pó bárbaro (alvaiade), com o qual embranquece o rosto, os ombros e o dorso com o auxílio de uma pequena borla de pelo de animal; vermelho de cinábrio ou de açafrão bastardo que ela espalha sobre as faces; pintas escuras que são distribuídas diferentemente sobre o rosto conforme a moda dominante; suas sobrancelhas são desenhadas em preto, por meio de uma longa agulha curva de madeira.
Toma a refeição numa sala separada, em companhia das outras mulheres do palácio. As refeições compõem-se de carne de porco temperada com cebolas e variedades de cebolinhas; acrescentam-se-lhe conservas e picados, milho miúdo, água e chá (somente ao sul do Rio Azul) acompanham os acepipes. As carnes cruas são freqüentemente cortadas em fatias finas, dessecadas e aromatizadas com gengibre, ou, então, amolecidas em vinagre temperado com cebola. Os banquetes compreendem cinco serviços: um caldo, carne de vaca e de carneiro acompanhada de arroz, porco com milho miúdo, peixe e carne de caça. Pratos mais complicados aparecem na mesa dos nobres amantes e comidas finas? picados de caracóis derretidos no vinagre, leitão receado de azedas, tartaruga recheada de molho de vinagre, azeite e ervas de conserva, carne de cachorro, carne crua aromatizada com gengibre e temperada com ovos de formiga conservados no sol. Danças e músicas, das quais por vezes participam também os convivas, acompanham os banquetes; quase sempre há dançarinos profissionais, truões e equilibristas contratados pelo dono da casa.

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