Texto de Apoio (02) - Mêncio

Se as estações da lavoura não forem alteradas, haverá mais trigo do que é possível comer. Se não se permitir que se mergulhem redes espessas nas lagoas, sobrarão peixes e tartarugas. Se a foice e o machado entrarem na floresta da montanha, em tempo oportuno, os bosques serão mais cerrados do que é preciso. Quando o trigo, os peixes, as tartarugas e a madeira excedem o consumo, o povo conta com o seu sustento e cuida de se preparar para a morte, sem rancor contra ninguém. Mas esta condição: ter o povo o sustento assegurado, para viver em sossego, sem ressentimento, é o primeiro passo na senda real".
Plantem-se amoreiras à roda das herdades, e as pessoas de cinqüenta anos poderão usar seda; se na criação de aves, de cães e de porcos, não se descurarem as épocas da procriação, as pessoas de setenta anos comerão carne. Cultivando a tempo o campo de cem acres, a família de várias bocas não sofrerá fome. Dedique-se escrupulosa atenção ao ensino nas diferentes escolas, inculcando repetidamente a noção dos deveres filial e fraternal, e não se verão nas estradas homens grisalhos, carregando fardos na cabeça ou aos ombros. Num estado, onde se observam estes resultados, jamais se viram setuagenários vestindo sedas e comendo carne, enquanto a população mais jovem sofre fome e frio; nem houve ali governante que não atingisse a dignidade real.
"Os vossos cães, os vossos porcos comem o alimento dos homens, e vós não sabeis acumular. Morrem criaturas humanas de fome, nas estradas; e vós não sabeis aproveitar as vossas reservas, para lhes aliviar as necessidades. Quando os homens morrem, dizeis: "A culpa não é minha; são as más colheitas". Que diferença há entre isso e apunhalar mortalmente um homem, para dizer depois: "Não fui eu; foi a arma"? Deixai, Majestade, de lançar a culpa às colheitas escassas, e instantaneamente todas as criaturas que vivem debaixo do céu virão a vós.

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