Tópico: O Pensamento Chinês

Na época dos estados combatentes (sécs. -5-3) houve o surgimento de várias escolas de pensamento, decorrentes do contexto de conturbação e de intensa discussão sobre a sociedade. A civilização chinesa deu um passo importante na resolução de seus problemas, levando em conta que decidiu encará-los de frente. No entanto, as respostas para essas condições de vida complicadas pela violência e pelo desespero foram as mais diversas possíveis. Por isso essa época foi chamada de “época das cem escolas”, mas as mais importantes (e que deixaram registros) foram a escola taoísta, confucionista, legista e moísta. Duas outras escolas surgiram no final desse período, e embora haja poucas referências sobre as mesmas, sabe-se que elas tiveram uma importância significativa. Eram a escola nominalista e a escola dos cinco elementos (wuxing jia). Analisemos rapidamente cada uma delas.

Daoísmo: movidos pelos escritos de um suposto sábio chamado Laozi, construíram uma doutrina filosófica que defendia a compreensão do Dao (Tao) como a única forma dos homens viverem em harmonia e retornarem a natureza primordial. Dao aí se entende por um conceito abrangente cujas traduções aproximadas podem significar de “caminho” até “natureza”, ou mesmo “cosmos”. As diversas especulações sobre a não-ação, sobre a realidade do homem em relação ao meio e sua consciência sobre a vida inauguraram uma nova perspectiva de discussão filosófica na China. Mas os dois daoístas que popularizaram a doutrina foram Zhuangzi e (supostamente, se foi apenas um único autor) Liezi, que transformaram em histórias e contos a teoria obscura do Dao escrita no Daodejing. O taoísmo desde cedo, porém, se aglutinou com as práticas mágicas, alquímicas e xamânicas, perdendo grande parte do seu conteúdo técnico e transformando-se numa religião. De certa forma identificamos esse processo com a tendência latente de ritualização presente na cultura chinesa e já discutida no primeiro módulo. No final da época Han, o livro Baopuzi, de Gehong, havia operado por completo esta transformação, afastando o taoísmo de seu caráter filosófico.

Confucionismo: Diferente dos daoístas, Kongzi (Confúcio) preocupou-se desde o inicio em empreender uma volta ao passado imperial Zhou, tido como exemplar, e não propriamente a uma perspectiva naturalista como a daoísta. Ele acreditava no poder da educação para retificar a conduta do homem, e sua proposta extremamente pragmática indicava um caminho acessível à todos para o reerguimento social. Kongzi não deixava por isso de trabalhar também com valores ditos “transcendentes”, mas seu entendimento sobre a realidade humana mostrava uma lucidez incrível, e por estes motivos suas proposições não podiam deixar de considerar a dificuldade em realizar o trabalho de instruir a sociedade. Assim sendo, a teoria confucionista não achava estranho (e até mesmo, defendia) que os seus participassem da burocracia para efetivar mudanças sociais salutares de cima para baixo. A data clássica de vida de Kongzi foi de -551-479, e os dois grandes confucionistas posteriores foram Mengzi (Mencius) e Xunzi., que teriam vivido aproximadamente no século –4-3. Estes desenvolveram uma grande discussão acerca da natureza do homem e do papel da educação e do governo. Como no caso do daoísmo, o confucionismo adquiriu um certo caráter religioso na época Han, tornando-se a doutrina oficial do estado imperial, mas já impregnada de modificações deletérias aos seus pontos mais positivos. Os confucionistas, porém, retomariam futuramente seus pontos de vista fundamentais, alicerçando a ética confucionista numa doutrina de características pragmáticas, abrangentes e flexíveis.

Legismo: A Escola da Lei (Fajia) representa a ascensão de uma razão de governo despótica, dura e violenta. Ela não se dispõe a retornar ao passado ideal, mas a criar um governo forte e centralizador em torno dos príncipes. Semelhante ao que ocorreu na Índia com o Artashastra e na Europa com Maquiavel, os legistas apresentavam uma proposta pragmática e totalitária de poder e governo, sendo muitas vezes absorvidos na máquina administrativa, como no caso da dinastia Qin. Seu maior autor teria sido Hanfeizi, que viveu no século -3, tendo organizado o conteúdo dessa escola que separava a política da moral, e aliava à prática uma teoria muita bem planejada, porém completamente severa e racional, desprovida de qualquer humanitarismo.

Moísmo: Algumas décadas depois de Confúcio, um grupo surgiu sobre a égide de Mozi, um retórico religioso que pregava a paz, a igualdade e desprezava a dita “proposta educativa” dos confucionistas, por achar que ela naturalmente excluía os menos providos. Curiosamente, os moístas eram materialistas, utilitaristas e dominavam inúmeras técnicas militares, que utilizavam para defender aqueles que acreditavam ser os “mais fracos”.

Nominalismo: Os ditos “sofistas” chineses surgiram mais ou menos na mesma época destas outras escolas, e sua retórica foi bastante empregada na discussão de assuntos políticos e jurídicos. Tiveram poucos expoentes no sécs. –4 -3, mas alguns dos fragmentos que sobraram revelam um grupo altamente intelectualizado, capaz de elaborar paradoxos complexos e equivalentes ao da mais sutil sofística grega.

Escola dos cinco elementos: A doutrina dos cinco elementos foi um desdobramento da antiga ciência chinesa, contida em livros como o Neijing e o Ijing. O primeiro de seus textos, no entanto, surge num anexo do Shujing, denotando uma influência abrangente sobre as outras escolas de pensamento Ela se preocupou em entender as problemáticas científicas, políticas e humanas como decorrentes de um ciclo natural que envolvia as correntes Ying e Yang e o domínios dos cinco elementos (água, fogo, metal, terra e madeira). Estes ensinamentos encontraram um sucesso enorme na época dos Han, principalmente no campo tecnológico, mas também foram aproveitadas para explicar eventos históricos e sociais.

Essas escolas constituem a base da estrutura do pensamento chinês, embora devam ser analisadas com cuidado diante das inúmeras alterações que sofreram em suas propostas ou mesmo em seu discurso. No entanto, elas nos fornecem os elementos necessários para compreender a lógica dessa civilização, mesmo em seus períodos mais antigos.

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