Arte Chinesa - introdução

A situação da arte do Extremo Oriente no conjunto da arte universal ainda não se encontra claramente determinada. A arte desta região possui, justificadamente, reputação elevada e atraiu numerosos amadores e coleccionadores. A partir do século XVIII influenciou a arte européia, e pode até ser considerada como uma descoberta do estilo Rococó. Pelos fins do século XIX, as gravuras em madeira e a pintura revolucionaram a arte mundial e inspiraram os artistas modernos. E, no entanto, isso não impede que existam ainda hoje inúmeros preconceitos a respeito do Extremo Oriente.
A China não se inclui entre as mais antigas civilizações do Mundo; foi pelo menos um milénio depois do Egipto e da Ásia Anterior que alcançou um nível de alta civilização. As escavações, iniciadas em 1922, mas somente protegidas e conduzidas sistematicamente desde 1950, fazem progressivamente aparecer os limites em que podem inscrever-se as nossas investigações. É quase certo não descobrirmos obras de arte de grande categoria antes de 1500 a. C.; mas por volta dessa época já existiam cidades, uma arte do bronze muito avançada e provavelmente a escrita, que encontramos desde 1300 a. C. Também seria errado crer que, atrás da Grande Muralha, erguida em 220 a. C. e originariamente simples anteparo de terra, a China tenha vivido fechada em si própria, sem qualquer contacto com o resto do Mundo.
[n.t: no ano de publicação deste livro, as pesquisas arqueológicas chinesas não haviam forçado os limites cronológicos desta civilização até um passado mais remoto, o que seria feito posteriormente]
Já no começo do Neolítico, cerca de 2000 a. C., as relações com importância histórica entre todas as partes do continente euro-asiático eram muito mais intensas do que temos imaginado. As cerâmicas, de qualidade surpreendente e muitas vezes de grande finura, que constituem o contributo mais antigo e mais belo da China para a arte universal, mostram representações e decorações indiscutivelmente semelhantes à cerâmica «de faixas» e à cerâmica “de cordas” européias. A origem, a idade e a dispersão destas civilizações pré-históricas são problemas que não se resolverão, verossimilmente, enquanto não se tiver um mais exacto conhecimento da evolução da China. [...]
Para mais, temos propensão para simplificar e atribuir indiscriminadamente ao Extremo Oriente todo o gênero de descobertas, como o papel, a imprensa, a pólvora para armas, a bússola e a porcelana. Simultaneamente imaginamos que tudo se desenvolveu de maneira contínua e que a China alcançou um alto nível de civilização mas de modo relativamente lento e numa quase imobilidade. Convém recordar que a distância de Pequim a Hong - Kong - cerca de 2000 quilômetros - corresponde mais ou menos à de Nápoles a Estocolmo e que, por conseqüência, a arte extremo-oriental e a arte européia dominam espaços sensivelmente idênticos. Por esse motivo, também a sua história aparece tão rica e tão movimentada como a da Europa, se bem que não tenha conhecido, no mesmo grau, catástrofes e devastações violentas e duradouras.
Tendemos ainda para figurar a população do Extremo Oriente como 700 milhões de indivíduos idênticos uns aos outros. Consoante a simplificação que nos faz considerar a França como o país da literatura, a Itália o da pintura e a Alemanha o da música, poder-se-ia caracterizar a China como o país da cerâmica e o Japão o da laca. Estes dois países criaram nestes dois gêneros, e também na arte têxtil, particularmente na da seda, obras que outros podem igualar, mas que não conseguem ultrapassar.

W. Speiser e E. v. Erdberg-Consten “Extremo Oriente”. Lisboa: verbo, 1969


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