Bronzes na antiguidade chinesa

Os bronzes sagrados da Antiguidade Chinesa oferecem apenas um limitado conjunto de tipos e de formas. Desprende-se deles uma grande força, que toma directamente perceptível o significado religioso e que freqüentemente dá uma impressão de monumentalidade fascinante.
Cerca do ano 1000 a. C. surge uma novidade marcante. A forma exterior dos bronzes não se modifica, e conserva-se a alta qualidade artesanal da execução, mas encontram-se agora inscrições nos fundos e nas tampas.
Trata-se quase sempre de uma homenagem feudal ou de uma elevação a um plano social superior, e o dia e o mês são quase sempre indicados com exactidão. Também é nestas inscrições que pela primeira vez aparece o titulo de «Filho do Céu) aplicado ao soberano chinês, titulo que ainda não existia nas inscrições de oráculos de Ngan- Yan. Esta novidade encontra a explicação num importante acontecimento histórico.
Por volta do século X a. C., um povo do Noroeste da China tinha atacado a dinastia Chang, utilizando carros de combate puxados por cavalos, e destronara-a. No lugar dos antigos reis cultivadores, que também existiram, sem dúvida, ao mesmo tempo que os Chang, instalaram-se os guerreiros Tcheu. Distribuíram terras em feudo aos chefes dos seus exércitos e aos parentes da casa real. De começo, adoptaram as formas de arte dos Chang e os antigos artesãos continuaram a fabricar os mesmos vasos, enriquecendo-os, por vezes, com inscrições que para nós são fontes históricas capitais. Por elas sabemos que os reis Tcheu praticavam provavelmente outra religião, mais conforme à sua vida de guerreiros. Nas inscrições salienta-se o tema do culto dos antepassados, e os vasos rituais são colocados nos templos e salas de antepassados, no interior de grandes moradas, em honra dos ascendentes e para edificação dos descendentes.
Cerca de 900 a. C., quando o poderio dos reis Tcheu atinge o apogeu, o estilo dos bronzes de sacrifício transforma- -se, sem que se modifique a importância e a redacção das inscrições. Da decoração dos vasos desaparecem as representações simbólicas da Antiguidade, ou, então, reduzem-se a uma estreita faixa ornamental e degeneram em puros ornatos, pobres de significado. Ao mesmo tempo, nota-se freqüentemente um evidente declínio na execução técnica dos bronzes. Encontram-se peças defeituosas, cujas formas foram fundidas em série na cera sem que os elementos sejam sempre devidamente nivelados nas juntas, deixadas em bruto. Além dos bronzes, este estilo aparece também em trabalhos de jade (jade ou nefrite é uma pedra de um verde acinzentado), decorados com os mesmos desenhos, mais ornamentais do que simbólicos.
Este estilo mantém-se durante perto de trezentos anos, até 600 a. C., e é vulgarmente denominado "estilo Tcheu médio”, mas talvez conviesse considerá-lo antes simplesmente como “estilo Tcheu”. É nele que se expressa mais pura- mente a concepção destes conquistadores militares, que criaram a primeira grande federação de estados no solo chinês e introduziram a idéia da unidade do Império sob um único soberano.

W. Speiser e E. v. Erdberg-Consten “Extremo Oriente”. Lisboa: verbo, 1969


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