Declínio do Budismo Chinês, por D. H. Smith

Depois da queda da grande dinastia T’ang, as linhas de divisão entre as várias escolas tenderam a ser suprimidas. Muitos budistas aceitarem como suas as feições salientes que tinham no passado distinguido as diversas escolas umas das outras. Só a Terra Pura e a Ch’an se mantiveram ativas na dinastia Sung, e nenhuma destas escolas dava grande importância à erudição budista. Nenhumas novas escolas do pensamento budista se desenvolveram e o budismo não produziu mais mestres importantes. A comunidade budista continuou a construir mosteiros e templos, a ordenar monges e a realizar atividades religiosas. Mas houve um triste declínio moral. Isto evidenciou-se pelo crescimento de um espírito de mundanismo entre o clero mais alto, muitos dos quais viviam com pompa e magnificência e procuravam o poder através de associações com a hierarquia confucionista.
O aparecimento do neo-confucionismo durante a dinastia Sung e a expansão dos exames do serviço civil pelos quais os escolares eram obrigados a procurar posto através de um estudo dos clássicos confucionistas, contribuíram para o declínio do budismo. Qualquer escolar ambicioso que desejasse alcançar uma posição de responsabilidade e poder verificava que só podia fazer isso por meio de anos de intensa aplicação aos estudos confucionistas ou procurando patrocínio e assistência junto de alguns grandes funcionários confucionistas.
Para mais, o budismo estava em declínio no pais da sua origem. O budismo indiano começou a perder rapidamente terreno perante um hinduísmo revivido e um islão agressivo. Muitas das grandes fundações monásticas no norte da Índia estavam em ruínas, com os monges e as freiras dispersos. Assim, o que tinha sido uma fonte de perene inspiração para o budismo chinês secara.
Com a queda da dinastia Sung na mão dos mongóis em 1280, e o estabelecimento da dinastia Yüan na China, o budismo tibetano ou lamaísmo tornou-se proeminente na China sob a proteção e patrocínio dos imperadores mongóis. Quando, todavia, os Ming estabeleceram uma dinastia puramente chinesa em 1368, a filosofia neo-confucionista tornou-se outra vez a doutrina oficial do estado (54) e a oposição ao budismo aumentou. Este estado de coisas continuou, em geral, através da dinastia Ch’ing (manchu) até aos tempos modernos, embora alguns dos imperadores Ch’ing professassem o budismo. “Com a religião budista proibida aos funcionários e declarada indesejável mesmo para o povo comum, e os monges limitados a uma vida ascética dentro dos templos e separados da sociedade secular, a eficácia do budismo como religião popular não podia senão decair.” (55) A atitude secular, mundana, das classes literatas, interessadas só na promoção da felicidade humana num estado bem organizado, era inimiga do budismo e do tauísmo também. Em geral, o budismo era tolerado mas desprezado como um amontoado de superstições toscas próprias só para dar certo conforto e escape às massas iletradas do povo. Se o budismo devesse continuar uma força religiosa eficiente na China precisava de reformas drásticas e de um despertar intelectual. Para os fins da dinastia Ch’ing isto começou a acontecer e ganhou ímpeto durante as primeiras décadas do século XX. Foi, de certo modo, o resultado do estímulo do cristianismo e das influências ocidentais. O relato das reformas instituídas por T’ai-hsü (1890-1947) e do despertar intelectual que remonta a Yang Wen-liu (1837-1911), juntamente com o retrocesso ao budismo, e naturalmente a todas as religiões através do aparecimento de um comunismo militante, será dado no capítulo sobre a situação religiosa na China moderna.

Notas
54. K. W Morgan, The Path of the Budha, p. 222.
55. Ibid., pp. 222-3.


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