Texto de Análise (04) - A Família Camponesa

A vida e a educação naturalmente diferiam multo conforme a classe social, pois, como vimos, não existe possibilidade de comparação entre plebeus e nobres.
O camponês nasce de uma união e não de um casamento como nobre. Na primavera de cada ano, depois da abertura da estação dos casamentos pelo rei e antes da partida para os lugares de trabalho rural, as moças e os rapazes vão cantar juntos nos campos, em grupos ou em casais; unem-se ao ar livre e têm o direito de se encontrar à sua vontade durante toda a estação das atividades campestres. Mas quando, com o inverno, é ordenada a volta à aldeia, e a reclusão de cada família no seu próprio alojamento faz cessar a vida em comum, os casais são separados, encontrando-se apenas clandestinamente. Na primavera seguinte renovam-se os pares entre as mesmas pessoas ou não. Aos vinte anos - a menos que já tenha estado grávida antes desta idade - a moça casa-se; o moço casa-se aos trinta. Sua união não é determinada apenas pela atração mútua, como poderiam os concluir do que acabamos de dizer, mas sobretudo pela necessidade de aproximar as famílias. Parece que já existe a proibição de união entre jovens da mesma aldeia; as conversações são iniciadas e desenvolvidas pelo intermediário, ao qual cabe presidir a cerimônia que se realiza no outono; provavelmente são reunidos todos os casais ao mesmo tempo, no decurso de uma festa coletiva. A partir daí, a moça troca a aldeia de seus pais pela de seu esposo e não mais canta nas festas da primavera. A união é indissolúvel.
As relações entre marido e mulher são cuidadosamente reguladas pelos costumes, havendo numerosos interditos sexuais durante o ano. Suas próprias tarefas os separam provocando a formação de comunidades masculinas e femininas: os homens encarregam-se do trabalho rural e do gado; as mulheres, da casa (onde o homem vai pouco) e da tecelagem.
Os graus de parentesco são mal definidos e o vocabulário distingue mal os filhos, irmãos, sobrinhos e primos. Existe entre todos eles um parentesco global que torna o grupo mais homogêneo e firme. Os membros de um mesmo grupo familiar trazem o mesmo luto e comem do alimento preparado no mesmo forno.
A vida das aldeias está submetida ao ritmo das estações. No outono e na primavera, realizam-se as assembléias populares reunindo homens e mulheres que se entregam conjuntamente a brincadeiras e orgias: concursos para tirar dos ninhos os ovos das aves migradoras, lutas, perseguições, danças e cantos, colheita de plantas silvestres, batalhas de flores, justas em que se defrontam moças e moços numa dança ritmada por meio de canções improvisadas etc.; comedeiras e bebedeiras encerram tais jogos, enquanto se concluem trocas e vendas, à semelhança da própria feira.
Quando o ano agrícola termina, efetuando-se então a volta à aldeia, os homens festejam entre si o fim da colheita; a celebração é feita com torneios de prendas. A estação morta vai começar; é ela inaugurada pela cerimônia do Grande No que anuncia a hibernagem dos homens e dos animais; disto participam apenas os homens; há danças com disfarces animalescos, ao som de um timbale de argila, os exorcistas exibem seus talentos, come-se e bebe-se, fazem-se apostas, adormece-se, enfim, na embriaguez, depois de amplas despesas, cabendo aos anciãos a presidência da agitação geral. A festa de Paqa fecha o período ativo que precede imediatamente o inverno; é celebrada pelos velhos da aldeia que, em vestes de luto e com o bastão na mão, convidam os homens a dar início ao retiro, a fim de preparar a renovação de outro ano.
O nascimento, entre os campônios, liga-se aos ritos da água; a iniciação da criança fez-se, habitualmente, por ocasião das festas da primavera. E cada etapa da vida parece concordar simbolicamente com as estações e com as manifestações sagradas da natureza.

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