Entre as Montanhas e os Mares


Como em tudo que se estuda sobre a China, falar da religião e da mitologia é, desde o início, um problema conceitual. O entendimento que os chineses tem dos seus "mitos" confunde-se facilmente com a religião e a filosofia, embora seja bem demarcado por uma literatura específica. O que vamos, pois, abordar neste ensaio? Devemos fazer uma seleção de temas, posto que nos veremos obrigados, de certo modo, a repetir algumas informações dadas em outros textos deste mesmo volume. O que buscaremos tratar aqui é do conjunto de crenças que alimenta o imaginário chinês e que nos permite classificá-los, até certo ponto, como tradições religiosas. Obviamente isso tem os seus limites, que serão dados paulatinamente.

A principio, a própria idéia de religião - tal como encontramos no mundo judaico-cristão - não se repete entre os chineses. O mundo desta civilização não se encontra desligado da natureza e das divindades, ao contrário; ele está plenamente inserido no cosmos, no qual o ser humano é o seu melhor intérprete. Desde os tempos antigos os chineses sondam a realidade, elucubrando sobre seus atributos e convivendo com o desconhecido como algo que, simplesmente, pode vir a ser (ou não) conhecido um dia.

O xamanismo

A primeira razão que podemos entender como sagrada, entre os chineses, surge ainda nos tempos proto-históricos, advinda da sistematização do xamanismo. O Animismo xamânico foi encontrado em todas as partes da China, e arraigou-se na população. Até hoje pratica-se, no país, uma espécie de religião popular inclassificável - se bem que, algumas vezes, incorporado diretamente pelo daoísmo religioso. Estas crenças estruturam-se num sistema caótico, ligado por meios complexos a um outro mundo do qual somos reflexo e manifestação. Os xamãs descobriram por meio do sonho e do êxtase mediúnico - momentos mais próximos da morte - que o outro mundo é semelhante ao nosso, mas lá as forças manifestam-se e toda sua plenitude. Foi este pensamento que criou os cultos aos animais, aos espíritos da natureza, e os deuses sob forma de astros e entidades zoomórficas. Durante o período Shang, o que encontramos são vestígios deste pensamento já institucionalizado, na forma de um culto imperial organizado. Os diálogos com o além se estabeleciam por meio de carapaças de tartaruga ou ossos oraculares, nos quais os espíritos forneciam as informações de como proceder. Os indícios, esparsos, afirmam que os chineses da época dedicavam-se justamente à estas forças da natureza, as quais já se dirigiam como entidades corporificadas e inteligentes.

A época dos Zhou traria uma reforma importantíssima nesta interpretação do cosmo; as forças da natureza obedeceriam a uma única entidade, chamada Tian (Céu). O Céu não seria necessariamente um deus, ou O Deus, mas uma consciência unificada, um principio inteligente que operaria os modos de manifestação da natureza.

Esta reinterpretação influenciou, sobremaneira, os modos dos chineses encararem suas perspectivas religiosas. Os seguidores de Confúcio, por exemplo, sempre entenderiam a existência desta única entidade como fator o formativo do universo, chegando por vezes a afirmar a inexistência de uma vida após a morte - embora o mestre defendesse ardorosamente a existência dos espíritos. Daoístas e Budistas não tiveram problemas sérios com esta concepção, embora mantivessem o Céu como uma instância reservada aos seus deuses e budas. Quanto ao povo, pareceu-lhes uma concepção demasiado profunda e distante, mas respeitosa demais para ser ignorada. Ainda que se dirijissem ao além, tinham - e tem - o céu como o espaço deste sobrenatural.

Os espíritos e os Ancestrais

Voltemos aos espíritos, pois os chineses não os deixaram de lado. Confúcio defendia a invocação e os rituais destinados aos ancestrais, tanto como forma de respeito, quanto de orientação e proteção:

As oferendas de carnes eram então preparadas, e o tripé redondo e o vaso quadrangular postos em ordem, e os instrumentos de música - o qin, o sebo a flauta, o ching (pedra musical suspensa por um fio e batida como gongo), os guizos e tambores, tudo nos seus lugares, e a oração do “sacrifício aos mortos” e a de “resposta dos mortos” eram cuidadosamente elaboradas e lidas a fim de que os espíritos do céu e os dos ancestrais pudessem baixar ao lugar do culto. Todas essas práticas tinham o propósito de manter a devida distinção entre governantes e governados, preservar o amor entre pais e filhos, incutir a gentileza entre os irmãos, regular as relações entre superiores e subalternos, e estabelecer de parte a parte as condições de convívio entre marido e mulher, para que sobre todos pairasse a benção do Céu. (Liji, Manual dos Rituais)

Quando se honram os mortos e a memória dos ancestrais remotos se mantém viva, a virtude de um povo encontra-se em seu apogeu. (Lunyu)

Ao mesmo tempo, no Lunyu (Diálogos), dizia ao seu discípulo Zilu para se preocupar com os vivos, e não com os mortos. Contradição? Talvez não.

Provavelmente o Mestre entendia que os espaços estavam definidos, e precisavam ser respeitados - mas ao mesmo tempo, isso tornava pragmática a necessidade de resolver os assuntos humanos. Confúcio não se furtava, pois, de usar os Conselhos do Yijing para fins oraculares, mas sabia que a ultima decisão em um assunto deste mundo era feita por nós mesmos.

Por conta disso, se os outros sistemas invocam até hoje médiuns para resolverem seus problemas, na época Han um confucionista chamada Wang Chong duvidava mesmo da existência de fantasmas. Um pequeno trecho de seus argumentos nos mostra com que perspicácia o autor era capaz de criticar as crenças no além;

Desde que teve começo o universo, milhões de pessoas têm morrido, em tempos diferentes. O número dos que hoje vivem é muito menor que o dos que morreram no passado. Se, portanto, os mortos se tornassem fantasmas, deveríamos encontrar um fantasma a cada passo. Se alguém vê fantasmas junto a seu leito de morte, deveria vê-los aos milhões, enchendo todas as ruas, os becos, os vestíbulos e os pátios, e não apenas ver um ou dois fantasmas... É da natureza das coisas que um fogo novo possa ser aceso, mas não há fogo extinto que comece a arder de novo. Novos seres humanos nascem, mas é impossível que um homem morto volte a viver. (...) A forma decorre da associação com o espírito, mas o espírito também se torna consciente por associação com a forma material. Não havendo fogo que arda por si só, como haverá espírito consciente sem corpo? Quando pessoas falam e fazem coisas ao lado de quem dorme, o adormecido não sabe disso. Da mesma forma, quando se fazem coisas boas ou más na presença de um caixão, o defunto não pode ter consciência disso. Se, portanto, quem está simplesmente a dormir, com sua forma corporal intacta, não pode ter consciência do que ocorre, como será isto possível quando a forma corporal já estiver decomposta? (Luheng, ou Diálogos Críticos, de Wang Chong)

Mas os chineses, no geral, acreditam ainda (e muito) na existência de almas. O ser humano, a princípio, possui dentro de si Hun (a alma espiritual) e Po (alma animal, ou material). Se uma pessoa consegue cumprir o seu ciclo de vida, pode ir para outro lugar ou reencarnar (veremos adiante), ou ainda, transformar-se em shen (espírito iluminado, um deus ou divindade cultual). No entanto, se morre de forma violenta ou se suicida por razoes egoístas, hun não consegue se livrar de po e então, pode virar um guei - espírito animal, fantasma ou vampiro - preso a este mundo até que os rituais de libertação apropriados sejam realizados. De muito pouco adiantou, para o povo, o ceticismo de Wang.

O Fantástico e o Imaginário

A capacidade autêntica que o pensamento mitológico tinha de sobreviver na China é, por outro lado, notável. Wang nunca conseguiu fazer tanto sucesso quanto um livro publicado mais ou menos na mesma época, intitulado Shanhaijing - o Tratado das montanhas e dos mares. Nele há o primeiro compêndio de geografia e fauna mitológica chinesa, com uma descrição repleta de seres fantásticos e lendas antigas. Uma literatura desse tipo surge para se contrapor a razão, e seu alcance é dificilmente mensurável. Ao contrário do mundo grego, em que Homero e Hesíodo foram os primeiros, na China a redação dos mitos chega muito depois da escrita. Um exemplo clássico desta mesma condição é o problema do mito de criação; os chineses não propuseram nenhum em sua antiguidade mais remota, e Confucio não nos informa nada sobre isso. De fato, parece que, para os antigos, o ser humano não tinha condição alguma de saber o que houve antes dele próprio. O mito que surge depois, de Pangu, é nitidamente importado de outras regiões, durante o período Han. Um relato interessante destas propostas sobre a criação do mundo está no livro de Anthon Christie, Mitologia Chinesa. Com uma bela iconografia e textos acessíveis, este livro nos apresenta uma introdução bastante agradável dos mitos chineses. Fato é, no entanto, que os chineses no geral não se preocuparam com a criação, mas sim com o funcionamento do universo. No comentário das Dez asas do Yijing (o tratado das mutações), Confúcio inicia a história da humanidade quando nos damos conta de que somos seres humanos. Este pragmatismo parece ser único na história das religiões.

Vida após a morte e reencarnação

A alternância e o debate entre a certeza (e a incerteza) da vida após a morte foi alimentada pelos budistas, cujas propostas para explicar o mundo e o sobrenatural pareciam bastante atraentes quando chegaram ao país em torno do 4 séc. d.C.

Antes disso, apenas Zhuangzi supunha um ciclo de retorno à terra. Os daoístas religiosos incorporariam, depois, a idéia popular do julgamento da corte celeste - um tribunal especial era constituído pelo juiz do inferno, e julgava os méritos de uma alma. Se boa, poderia ir logo para o Céu ou reencarnar - se não, seria torturada algum tempo até poder reencarnar novamente.

O céu chinês, como foi dito, é apenas uma reprodução do que vemos na terra. Uma pessoa poderia esperar uma boa colocação do outro lado, mas continuaria a trabalhar e viver como se estivesse na terra. Poderia, ainda, interferir como ancestral, antes de voltar.

Os confucionistas da época Song não acreditavam muito nessas coisas, e sua tendência era de crer que a alma simplesmente se dissolvia junto com o corpo. Afinal, que evidências de alma possuíamos para provar sua existência? Somente entre os budistas firmou-se o dogma da reencarnação, muito popular em contos chineses fantásticos. Os fantasmas, porém, são um dos temas preferidos da literatura; o Soushenji (Histórias de fantasmas), da época Tang, é um desses livros dedicados inteiramente a histórias de terror envolvendo guei's.

Ainda o Céu

Mas que céu chinês é este? É um espaço em aberto, em que convivem todas as forças e personagens do mundo mítico-religiosos chinês. Se para os confucionistas o Céu é uma razão operante da natureza, para daoístas e budistas este espaço ganha contornos notavelmente autênticos e diferenciados.

Para os daoístas, nele residiria a divindade suprema, o Imperador de Jade, o soberano de todo o céu. Junto com ele, estariam seus deuses e auxiliares, vivendo em palácios e propriedades tais como na terra.

No entanto, é com extrema flexibilidade que os chineses recebem os budistas no céu. Lá, eles também localizam o espaço de Buda, como aparece na epopéia do Rei macaco (Xiyouji). O pensar chinês, neste ponto, parece tratar-se de um discurso de crenças; o que uma pessoa acredita, é o que irá vivenciar junto aos seus deuses. Se acreditar em outra coisa, é o que fará também.

Os Deuses

Se são inumeráveis os deuses chineses, alguns são fundamentais para a existência da sociedade. Os deuses do lar são mais chamados pelo povo do que as divindades maiores. Veja-se o caso do deus da cozinha, por exemplo; é ele quem leva o relatório anual da casa para o tribunal do inferno, apresentando a conduta dos membros de uma família. Agradá-lo é uma boa forma de conseguir um melhor julgamento após a morte. Os guardiões da porta também afastam os maus espíritos, protegendo a família de energias ruins. Os ancestrais, ainda, dão bons conselhos e aparecem em sonhos quando necessário. Os grandes deuses, pois, são invocados em ocasiões públicas e eventos sociais. Sua cosmogonia é explicada em um texto tardio, mas interessante, chamado "A criação dos deuses" (Fengshen yanyi). Mas é a proximidade dos espíritos que garante a maior interferência na realidade. Uma canção popular sobre o deus da cozinha é bem direta sobre isso:

No último dia da duodécima lua
o deus do Lar volta para o Céu
para contar o que viu cá na Terra.
Antes de o queimarem em fumo o tornarem,
toda a família lhe dá de comer
para que fique com o ventre farto.
Leitão bem assado, peixe mui gostoso,
bolos aloirados, frutos bem maduros,
o vinho, um regalo, não se olha a despesas.
O deus do Lar esquece as querelas, as palavras insolentes,
as faltas de todos. Sobe ao Céu bêbado e satisfeito.
O que é preciso depois é arranjar outro deus!

A longa trajetória deste pensar religioso fez a corte celeste se transformar em algo idêntico a corte imperial da terra (embora os chineses vissem isso de forma contrária). Eles tem, inclusive, o seu "Olimpo" no monte Taishan (a "montanha suprema"), mas não sabemos dizer quem subiu lá para conferir - apesar de que os mundos espirituais e terrestres se interpenetram, não sendo necessário encontrar nada lá para supor que os deuses existam. Os ministros do céu administram o além como os daqui o fazem. Ocasionalmente recebem adendos, como Guandi - deus da justiça que teria sido um herói durante a época dos três reinos. Uma das peças fabulosas desta história é a figura de Guan Yin (ou Kwan yin), um antigo bodisatva budista que transformou-se numa deusa protetora das mulheres e crianças. Este parece se tratar de um dos poucos casos em que um deus muda de sexo ao longo de seu culto, e firma-se numa forma diferente da sua original. Novamente, a ausência de informações sobre o mito pode simplesmente legitimá-lo, ao invés de exterminá-lo.

O Bestiário

Neste mundo fantástico, os chineses também conceberam atributos especiais aos animais - imaginários ou não. A figura do tigre e do dragão dominam o mundo animal, mas outros animais como a fênix, a tartaruga, o macaco e o unicórnio tem seu destaque garantido. São dois os ciclos explicativos das funções animais: um está ligado a dinâmica dos 5 agentes (no qual cada animal representa um dos agentes) e o ciclo do zodíaco (composto por 12 animais). Cada um deles representa um sentido ordenador do mundo, mas é curioso notar como eles mudam. Por exemplo: os 5 animais que representam os agentes na medicina chinesa (galo, carneiro, cavalo, boi e porco) são diferentes daqueles que aparecem no Fengshui (a arte do vento e da água, a técnica de arquitetura e geomancia clássica da China); dragão, fênix, serpente, tartaruga e tigre.

O unicórnio, segundo Sima Qian, anuncia a vinda de Confúcio, mas não faz parte do zodíaco. Animais como o elefante e o rinoceronte, existentes no mundo Shang, desapareceram (ou nunca fizeram parte) da mitologia. As raposas, porém, alimentam o imaginário, podendo transformar-se em seres humanos e terem uma longa vida. O dragão tinha sua existência "comprovada" pelos misteriosos ossos achados em escavações ocasionais (com certeza, fósseis), e os chineses podiam, ainda, contar com a presença de novas espécies; na época Ming, por exemplo, um par de girafas presenteadas ao imperador foi considerado um bom presságio, pois estes animais de pescoço longo "viam longe". Mas neste bestiário chines, não se pode esquecer nem mesmo do singelo rouxinol, tema de histórias infantis diversas, ou da gralha, animal de estranho papel na conexão entre o mundo dos humanos e dos espíritos.

Imortalidade

Um dos elementos que toma corpo na religiosidade chinesa é a idéia de imortalidade. Esta proposta já existia na época Qin, já que o primeiro imperador foi um dos que morreu atrás de um elixir da longa vida. A lógica era simples: se com remédios podemos estender nossa vida, então não seria possível encontrar um meio de harmonizar o corpo com a natureza indefinidamente? Se esta busca não foi sistematizada durante um bom tempo, no final do período Han um daoísta chamado Ge Hong escreveu no seu Baopuzi os fundamentos e disciplinas da alquimia daoísta, servindo de referência posterior para todos os outros que desejavam atingir a imortalidade.

Uma apresentação belíssima desta questão está no livro de John Blofeld "Taoísmo, a busca da imortalidade", que mesmo sendo antigo - e não tendo sido feito por um historiador - nos fornece um quadro bastante acessível dos sentidos e significados destas buscas para os daoístas.

De qualquer modo, os chineses nunca puseram totalmente em dúvida a existência da imortalidade. Os 8 imortais daoístas, grupo de figuras fantásticas com poderes especiais, tem todos uma história humana que explica sua entrada na imortalidade. Ninguém os viu; mas se ninguém os procura, também, como podem ser vistos? Eis uma lógica irrefutável para a manutenção do mito.

A Continuidade

E o que há de esperar para o futuro? As tradições religiosas já estão voltando a China, após uma breve diminuição nos tempos mais duros do comunismo. Os chineses nunca foram ateus convictos, mas sempre foram pragmáticos o suficiente para saber das necessidades do agora. Se hoje um arquiteto usa de Feng Shui para localizar adequadamente uma construção, trata de colocar-lhe também um bom alicerce para garantir sua solidez. Maozedong, que tanto combateu as superstições, hoje transforma-se numa espécie de padroeiro e santo da justiça. Os funerais prosseguem da mesma maneira de séculos atrás; queima-se dinheiro para pagar as despesas no tribunal do inferno. O sentido religioso milenário, construído pelo equilíbrio das "3 vias" - confucionismo, daoísmo e budismo, ou sanjiao -, volta simplesmente a ocupar o seu lugar no imaginário coletivo. Na antiguidade, quando o budismo começou a entrar na China, os chineses achavam que Buda era Laozi que retornava com sua doutrina completa. Depois, descobriram que Buda era um estrangeiro, e achinesaram o budismo até ele se tornar um orgulho nacional. Esta receptividade e flexibilidade são as condições fundamentais do senso religioso chinês, e com elas os chineses seguirão adiante. Este é o futuro de qualquer religião que queira estar com os chineses; sincretizar-se. E, por fim, vale o velho espírito popular chinês, ilustrado por esta anedota:

Os três fundadores das religiões chinesas, encontrando-se um dia aborrecidos no Céu, decidiram ir dar uma volta pela Terra. Certo dia, fatigados e cheios de sede, aperceberam, num lugar solitário, uma nascente, perto da qual trabalhava um camponês. Buda, acostumado a mendigar, foi encarregado de pedir autorização ao camponês para se saciarem na fonte. Buda apresentou-se, e o camponês disse-lhe:
- Já que aqui estás, autorizo-te de bom grado a que bebas da nascente se me responderes a uma pergunta. Porque é que afirmas serem os homens livres e iguais, mas consentes que nos teus mosteiros haja um superior que está acima dos outros?
Buda não deu resposta. Laozi apresentou-se, por sua vez.
- Vós, os daoístas - disse o camponês -, pretendeis possuir o segredo do elixir da longa vida. Então porque é que não o destes aos vossos pais, e os deixastes morrer?
Vendo os seus dois compadres em maus lençóis, Confúcio ofereceu-se para responder às perguntas do aldeão.
- Bom - prosseguiu este -, tu ensinas que não se deve abandonar os mais velhos, mas passaste a tua longa vida a vagabundear de príncipe para príncipe. Como justificas tal atitude? Confúcio, por sua vez, nem tugiu nem mugiu perante a malícia do pobre camponês.
- Bem - disse este -, vão lá matar a sede, se querem refrescar-se, mas não se julguem acima do comum, quando a vossa sabedoria é tão depressa desmentida, e as vossas lições tão depressa esquecidas.

Nenhum comentário: