A importância da Música - Liji

Grupo de músicos - período Tang


A música une, o ritual distingue. Pela união as pessoas tornam-se amigas. pela distinção aprendem a respeitar-se. Se predomina a música, a estrutura social tende a tornar-se amorfa; se o ritual predomina, a vida social tende a tornar-se demasiado fria.

A música e aos rituais cabe manter em equilíbrio os sentimentos e a conduta do povo. A instituição dos rituais propicia uma noção bem clara de ordem e disciplina, enquanto a divulgação da música e dos cantares suscita uma atmosfera popular de paz. Quando o bom gosto afasta-se do mau gosto, têm-se meios de distinguir a gente boa da gente má; e quando a violência é prevista nas leis penais e os bons cidadãos são colhidos para o serviço público. então o govêrno torna-se ordeiro e estável. Com a doutrina do amor para ministrar afeto, e a doutrina do dever para ministrar retidão, o povo aprenderá a viver moralmente.



Orquestra de sinos - período zhou


A música vem do íntimo, ao passo que os rituais vêm de fora. Por vir do íntimo, a música é espontânea e calma. Por virem de fora, os rituais caracterizam-se pelo seu formalismo. A música verdadeiramente sublime é sempre simples nos seus movimentos, e os rituais verdadeiramente sublimes são sempre singelos na sua forma. Quando prevalece a boa música não há sentimento de inquietação, e quando prevalece o ritual adequado não há rixas nem lutas. Ao dizer-se que pela simples maneira de curvar-se em saudação pode o rei governar o mundo, vai nisso uma referência ao poder da música e dos rituais. Quando os elementos de violência de um país são mantidos quietos, os vários governantes vêm render-lhe homenagens, ensarilham-se as armas de guerra, as cinco leis penais não são postas em uso, o povo não tem receios e o imperador não tem ira - então é que prevaleceu a música; quando pais e filhos têm afeição recíproca, os mais jovens respeitam os mais velhos e tal respeito estende-se a todos os cidadãos, e o próprio imperador vive uma vida exemplar, pode-se então dizer que a li prevaleceu.

A grande música compartilha dos princípios harmonizadores do universo, e o grande ritual compartilha dos princípios diferenciadores do universo. Através dos princípios de harmonia, restaura-se a ordem no mundo físico; e através dos princípios de diferenciação, afinal, podemos oferecer sacrifícios ao Céu e à Terra. Temos portanto ritual e música no mundo material, e as divindades várias no mundo espiritual - e assim viverá o mundo com respeito e amor. Os rituais incutem o respeito em diversas circunstâncias, e a música incute o amor sob diversas formas. Quando semelhante condição moral se estabelece mediante os rituais e a música, tem-se a continuidade da cultura pela ascensão de governantes sábios. Os acontecimentos políticos diferem com (os governantes de) as gerações diferentes, e os rituais e a música para a celebração dos acontecimentos recebem denominações adequadas às várias realizações dos governantes.

A música expressa a harmonia do universo, enquanto que os rituais expressam a ordem do universo. A harmonia põe em comunhão tôdas as coisas e a ordem põe cada coisa em seu lugar. A música provém do céu, os rituais padronizam-se na terra; transgredir êsses padrões resultará em desordem e violência. Para têrmos a música e os rituais adequados, havemos de compreender necessariamente os princípios do Céu e da Terra.


Flauta de bambu - período zhou


Eis por que o Sábio cria a música para atender ao Céu e traça os rituais para atender à Terra. Quando música e rituais se estabelecem, temos o Céu e a Terra a funcionar em perfeita ordem. O Céu fica no alto e a Terra fica embaixo, e nessa mesma relação devem ficar o rei e os ministros. Quando o mais alto e o mais baixo se distribuem em diferentes níveis, temos o princípio das castas sociais. Quando a lei rege ação e reação, temos em resultado as relações entre grandes e pequenos. E quando os miríades de coisas classificam-se e grupam-se conforme sua natureza. reconhecemos o princípio da diversificação no mundo. Assim se formam de estréIas as constelações simbólicas no céu, e os caprichosos desenhos das montanhas e rios e coisas na terra - tudo isso demonstrando que a li atua segundo o princípio diversificador do universo.

Quando sobem os vapôres da superfície terrestre e descem os vapôres das camadas superiores da atmosfera, quando os princípios yin e yang encontram-se, atritam-se, e o céu e a terra agem um sôbre o outro; e quando, aceleradas pelo trovão e o relâmpago, vivificadas pelo vento e pela chuva, estimuladas pela seqüência das estações do ano, aquecidas pelo sol e pela lua, as coisas crescem e se desenvolvem - tudo isso demonstra que a música atua segundo o princípio harmonizador do universo.

A música encarna as fôrças primordiais da natureza, ao passo que a li reflete a criação. O Céu representa o princípio do eterno movimento, ao passo que a Terra representa o princípio da permanente quietude - e êsses dois princípios, o do movimento e o do repouso - penetram tôda a vida entre o Céu e a Terra. Eis por que o Sábio fala de música e rituais.

Quando virdes o tipo de dança de uma nação, conhecer-lhe-eis o caráter...

O homem é dotado de sangue e alento e consciência, mas a tristeza ou felicidade, ou alegria ou ira, êle sente conforme as circunstâncias; seus formulados desejos resultam de reações diante do mundo material. Portanto, quando predomina um tipo de música sombria e depressiva, sabe-se que o povo é triste e desgraçado; quando predomina um tipo de música langorosa, fácil, com árias prolongadas, sabe-se que o povo é feliz e pacífico; quando predomina um tipo de música forte e vigorosa, começando e acabando com exuberância de sons, sabe-se que o povo é voluntarioso e forte; quando predomina um tipo de música pura, piedosa e magnificente, sabe-se que o povo é afetuoso e cordial; quando predomina um tipo de música lasciva, excitante e lúbrica, sabe-se que o povo é imoral.

Quando a gleba é pobre os sêres não crescem, e quando a pesca não é controlada conforme as estações do ano os peixes não chegam a desenvolver-se; quando o clima se estraga, degeneram as plantas e os animais, e quando o mundo é caótico a música e os rituais tornam-se licenciosos, e então encontra-se um tipo de música lamentosa sem contenção e alegre sem tranqüilidade.

Por isso o homem superior procura instaurar a harmonia no coração humano através do descobrimento da sua natureza e procura fazer da música um meio de levá-lo à perfeição da sua cultura. Quando predomina êsse tipo de música e o espírito do povo é orientado para os justos ideais e aspirações, pode-se perceber o advento de uma grande nação.

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