História Antiga

 


Desde cedo a civilização chinesa parece ter buscado desenvolver concepções singulares sobre o domínio da vida e do território que - concomitantemente a um complexo e antiquíssimo sistemas de crenças xamânicas -, construíram uma cultura altamente técnica e especializada, cuja ciência desde cedo se aliou à ritualização e a religiosidade como forma de fixar os conhecimentos adquiridos através de uma série sucessivas de modelos civilizacionais, testados desde seus períodos proto-históricos (Barnes,1993). Via de regra, isso significava reter uma parte dos avanços obtidos no campo empírico num sistema de práticas rituais, o que não necessariamente anulava sua eficácia (já que exigia o seu estudo pormenorizado) e muito menos impediam a pesquisa (por se tratarem de ciência), mas que, por outro lado, delimitaram uma organização social cuja mobilidade possui um ritmo próprio e diferente daquele conhecido no Ocidente antigo, tanto em função do domínio dos conteúdos (pois o controle dessas práticas pressupõe tempo e condições para estudo, passíveis portanto de uma situação social favorável) como da especialização do trabalho e da estrutura produtiva (que o Marxismo buscou denominar como “Modo de Produção Asiático”), que se encontravam articulados a constituição dos modelos de subsistência já citados. Logo, a condição ritual da estrutura técnico-produtiva era um estruturador de papéis sociais, e embora não deixasse de ter seu apelo lógico-racionalístico, era no entanto carregada de religiosidade e conservadorismo. Em primeiro lugar, portanto, devemos nos remeter à essas condições básicas de estudo da civilização chinesa: uma sociedade cuja estruturação deriva fundamentalmente da evolução direta de suas condições proto-históricas, através do desenvolvimento de modelos sociais e produtivos sucessivos em busca de adequação ao ambiente, cuja funcionalidade pragmática não se perdeu mas que, gradualmente, se fundiu as práticas religiosas e rituais de origem autóctones.

Historicamente, por conseguinte, vamos admitir a dinastia Shang como a primeira existente. Seu início pode ser datado do século -15. Era uma cultura altamente desenvolvida, tendo construído uma capital, Anyang, e possuindo um domínio da arquitetura e do bronze sem igual. Já conheciam o fabrico da seda, a exploração do jade, do marfim e utilizavam a irrigação. Estavam organizados em reinos compostos de Cidades-Estado, e o princípio de “império”, nessa época, pode ser muito melhor entendido como de uma grande confederação de pequenos estados e latifúndios, que abrigavam as comunidades produtivas. Utilizavam carros de duas e quatro rodas, com revolucionários arreios peitorais para os cavalos, criavam animais diversos (destacando-se a cultura de porcos, aves, cães e carneiros) e praticavam uma religião de cunho politeísta que parecia ser um desdobramento das práticas xamânicas antigas. Já possuíam também um sistema de escrita rudimentar, encontrado nos oráculos de ossos de tartaruga. No século -12, essa civilização vai ser politicamente derrotada pela ascensão dos Zhou. Não sabemos ao certo como se organizaram estas dinastias, cujo princípio poderia ser familiar ou étnico. Mas a existência de líderes que encabeçam estas alterações históricas pressupõe um certo padrão social que seria comum ao território (nobres, camponeses, artesãos, etc), em virtude do envolvimento dessas classes nos processos políticos. O período Zhou foi bastante próspero, tendo evoluído tecnicamente em todas as áreas já destacadas no período Shang, além de inaugurar uma fase de expansão e colonização em novos territórios, reorganizando a política e a economia dentro de uma estrutura feudal.Uma de suas conquistas principais é a de elaborar a teoria do Mandato Celeste, uma autorização expressa do cosmo que encarrega o imperador de administrar a ecologia mundial – ou seja, a vida do império. Tal ideologia, cujo sucesso é representativo, torna-se um substrato fundamental na concepção de política chinesa e fomentou uma certa coesão social no primeiro período Zhou. Mas este processo de desenvolvimento e expansão colocou os chineses, no entanto, em contato direto com as tribos nômades do norte, que começam neste momento um longo período de conflito ao longo das fronteiras do império. A organização feudal vai, aos poucos, se corromper devido à concentração de poder na mão dos senhores de terra. Esta situação vai gerar uma série de conflitos que lançaram a dinastia Zhou num período de intensa conturbação entre –481 -221, conhecido como “Estados Combatentes”. A dinastia perdeu seu poder, e os reinos começaram a lutar entre si para ver quem ocuparia o trono. No momento final, apenas sete estados sobreviveram – Qi, Qin, Chu, Zhao, Han, Yen e Wei, tendo Qin conseguido derrotar os outros estados e reunificado, finalmente, o território. As datações sobre este período são igualmente denotativas: supõe-se que a maior parte das grandes escolas filosóficas tenha surgido neste período (taoísmo, confucionismo, legismo e moísmo), e se levarmos em conta o suposto período de vida de autores como Confúcio e Laozi, (séc. –6, -5) devemos pois admitir que os conflitos que deram origem ao período dos Estados Combatentes foram, na verdade, bem anteriores, e que em muitos casos já estariam ocorrendo. No ano de -221, assume enfim o Qin Shi Huangdi, ou o “primeiro imperador da China”. Ele adotou o nome do lendário Huang di (Imperador amarelo), que teria sido o primeiro dos imperadores antes dos Xia. A breve dinastia Qin foi marcada por processos de mudança radicais: o poder feudal é desarticulado, e tanto a escrita como os pesos, medidas e o dinheiro são unificados. A grande muralha é construída, tomando por base antigas fortificações existentes na fronteira norte. Cria-se uma burocracia forte e organizada para gerir os negócios do estado, mas em contraposição à todas essas medidas positivas, o imperador persegue sábios, queima livros, restringe a religião, incita seu próprio culto e exauri os recursos humanos da massa de trabalhadores. Mas seu reinado foi efêmero, e sua dinastia não demorou muito tempo: após morrer em 210 a.C., seu sucessor enfrentou uma série de revoltas que, em 4 anos, culminaram com a ascensão dos Han ao poder. O período de Han é um dos mais prósperos da China. Essa dinastia organiza o poder internacional do país, estimula uma política comercial expansionista e desenvolvida, além de aperfeiçoar a burocracia responsável por administrar o poder em todos os níveis. Assume o confucionismo como prática oficial de governo (e possivelmente, em suas perspectivas religiosas também) e passa por um renovado período de descobertas técnicas. A dinastia Han criara finalmente a estrutura que serviria de base para o desenvolvimento de todas as outras dinastias, alcançando seu ápice durante a época dos Tang, no século +7. Modelo cronológico aceito modernamente: Xia 2205 -1766 Shang 1766 -1028 Zhou Anterior 1027 -650 Zhou Posterior 650 - 221 Estados Combatentes 481-221 Qin 221 - 206 Han Anteriores -206 +9 Han Posteriores +22 +220 (inclui-se um interregno de quase duas décadas quando a dinastia foi usurpada pelo governo de Wang Mang)

Textos

Primórdios da História Chinesa

Dinastia Xia

Dinastia Shang

Dinastia Zhou Anterior

Dinastia Zhou - Primaveras e Outonos, Estados Comb...

Dinastia Qin

Dinastia Han Anterior

Dinastia Han Posterior

Cultura no período Han

Para uma História da Mulher na China

 

Ligações externas

História da China Antiga, por André Bueno

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